domingo, 13 de agosto de 2017

Yohann Diniz vence mundial de 50 km pela primeira vez

Finalmente, o título mundial para Yohann Diniz.
Foto: AIFA
O marchador francês Yohann Diniz venceu este domingo os 50 km marcha masculinos dos Mundiais de Atletismo de Londres, ao perfazer a distância em 3.33.12 h. Nos lugares imediatos terminaram os japoneses Hirooki Arai (3.41.17) e Kai Kobayashi (3.41.19), seus colegas no pódio. Entre os portugueses, João Vieira foi 11.º (3.45.28), bem perto do seu recorde nacional, e Pedro Isidro terminou na 32.ª posição (4.02.30), depois de ter passado grande parte da prova a caminhar para recorde pessoal.

Três vezes campeão da Europa de 50 km (2006, 2010 e 2014), Yohann Diniz tinha como melhor classificação em campeonatos mundiais o segundo lugar obtido em 2007 (Ósaca), também na distância longa, atrás do australiano Nathan Deakes. Pelo meio havia excelentes classificações também em taças da Europa e do mundo de marcha, recordes mundiais de 20 e 50 km em estrada e de 50 mil metros em pista, mas faltava brilhar nos mundiais de atletismo. Esse dia chegou, finalmente.

Tal como já sucedera noutras ocasiões, o marchador francês deu mais um recital de marcha atlética, não só para alcançar o primeiro título de campeão do mundo mas também para terminar com dois outros recorde: mais de oito minutos de avanço sobre o segundo classificado, facto nunca antes ocorrido em provas de 50 km marcha dos mundiais de atletismo, e título mundial aos 39 anos de idade, facto nunca antes ocorrido em qualquer prova ou concurso dos mundiais de atletismo.

Além do mais, Diniz só não bateu o seu próprio recorde mundial da distância (3.32.33, Zurique, 2014) porque saiu do circuito durante alguns segundos logo nos primeiros minutos de prova e no final se entreteve a enrolar uma bandeira de França à volta do pescoço e a cumprimentar espectadores enquanto se encaminhava para a meta.

Foi logo aos três quilómetros de prova que Yohann Diniz se isolou na frente da competição, mas de imediato saiu para a casa de banho, retomando a prova alguns segundos mais tarde, integrado no grupo que momentos antes perseguia. Se a primeira «fuga» não sortiu efeito, pouco seria preciso esperar para que o francês se destacasse a título definitivo. Aproveitando uma aceleração de Horacio Nava, Diniz seguiu o mexicano, com quem deu uma volta junto (2 km), para ficar sozinho cerca dos sete quilómetros de prova.

Aos dez quilómetros, cumpridos em 44.28 m, tinha 41 de vantagem para Nava e 55 segundos para o primeiro grande grupo, composto por 15 unidades. Marchando em ritmo cada veza mais elevado, o francês deleitou-se a ver a vantagem crescer a cada passada. A meio da prova, Yohann Diniz registava 1.48.24 h, com o grupo perseguidor reduzido a sete unidades a passar dois minutos e 59 segundos mais tarde.

Até final, o interesse da prova foi-se centrando na expectativa quanto a novo recorde mundial (que não chegou a acontecer) e na curiosidade por ver quem iria impor-se na luta pelos lugares do pódio. Neste último caso, a acção era protagonizada pelo finlandês Aleksi Ojala, pelos japoneses Arai e Kobayashi, pelo canadiano Evan Dunfee, pelo chinês Wei Yu e pelos equatorianos Andrés Chocho e Claudio Villanueva (este, quando ainda espanhol, venceu no Montijo, em 2013, os nacionais conjuntos de Portugal e Espanha de 50 km).

Após ataques e contrataques, desistências e desclassificações, os japoneses Hirooki Arai e Kai Kobayashi acabaram por ficar sozinhos na perseguição ao francês, pactuando entre eles a distribuição dos segundo e terceiro lugares (com vantagem para Arai). E assim, em glória nipónica, terminava a luta pelo pódio.

Nos lugares imediatos, a fase final da competição viu posicionarem-se atletas que tinham feito uma prova entre o cauteloso e o discreto, pouco se mostrando aos da frente mas terminando em força e acabando por superar quase todos os que tinham estado mais de três horas na luta pelo pódio. Foram os caso do ucraniano Igor Glavan, que ganhou oito lugares na segunda metade para terminar à porta do pódio; o terceiro japonês, Satoshi Maruo, brilhante quinto posicionado na classificação final; e sobretudo do húngaro Máté Helebrand, que, com 3.43.56 h, tirou quase dez minutos ao recorde pessoal (3.53.54 à partida) e estabeleceu novo recorde da Hungria na distância.

Ainda que num plano um pouco mais abaixo, também João Vieira fez uma prova de grande recuperação. Iniciando os 50 km nos lugares mais recuados, como é seu hábito, o português foi aumentando gradualmente o ritmo, cumprindo cada trecho de dez quilómetros com os seguintes parciais: 46.17, 45.32, 45.16, 44.13 e 44.10 m. Pena foi que um início tão discreto tivesse comprometido o ataque ao seu recorde nacional, cifrado desde 2012 em 3.45.17 h, e que seria uma prémio justíssimo para o marchador de 41 anos. Ficou a escassos 11 segundos, mas sempre poderá dizer ter subido do 33.º lugar aos 5 km e do 27.º a meio da prova até à 11.ª posição final.

Menos feliz foi Pedro Isidro, que até aos 30 quilómetros rolou na companhia dos espanhóis Francisco Arcilla e Iván Pajuelo, tudo apontando para uma marca final ao nível do recorde pessoal (3.55.44). No entanto, após essa passagem, o atleta do Benfica enfrentou vários problemas e acabou por ver esfumar-se a oportunidade que mais uma vez deixou escapar para melhor o seu registo pessoal.

Voltando ao vencedor, Yohann Diniz afirmou no final da prova estar feliz pela vitória, que dedicou também um pouco à família em Portugal, que o acompanha a partir de Mirandela. Diniz é descendente de portugueses e contou ter recebido os parabéns dos familiares transmontanos. «Também lhes quero dedicar esta vitória», afirmou, acrescentando tratar-se de um dia especial para França e Portugal, graças à vitória também de Inês Henriques nos 50 km femininos. «Fico muito contente pela Inês, por ter conquistado o primeiro título de 50 km femininos», afirmou.

Nota final para assinalar os parciais por cada dez quilómetros do novo campeão mundial, Yohann Diniz: 44.28, 42.50, 42.33, 41.40 e 41.41 m. Não está ao alcance de qualquer um!

Classificação
50 km masculinos
1.º, Yohann Diniz (França), 3.33.12
2.º, Hirooki Arai (Japão), 3.41.17
3.º, Kai Kobayashi (Japão), 3.41.19
4.º, Igor Glavan (Ucrânia), 3.41.42
5.º, Satoshi Maruo (Japão), 3.43.03
6.º, Máté Helebrand (Hungria), 3.43.56
7.º, Rafal Augustyn (Polónia), 3.44.18
8.º, Robert Heffernan (Irlanda), 3.44.41
9.º, Marco De Luca (Itália), 3.45.02
10.º, Carl Dohmann (Alemanha), 3.45.21
11.º, João Vieira (Portugal), 3.45.28
12.º, Quentin Rew (Nova Zelândia), 3.46.29
13.º, Karl Junghannss (Alemanha), 3.47.01
14.º, Aleksi Ojala (Finlândia), 3.47.20
15.º, Evan Dunfee (Canadá), 3.47.36
16.º, Horacio Nava (México), 3.47.53
17.º, José Ignacio Díaz (Espanha), 3.48.08
18.º, Claudio Villanueva (Equador), 3.49.27
19.º, Ivan Banzeruk (Ucrânia), 3.49.49
20.º, Jorge Armando Ruiz (Colômbia), 3.50.37
21.º, José Leyver Ojeda (México), 3.51.17
22.º, Rafal Fedaczynski (Polónia), 3.52.11
23.º, Jarkko Kinnunen (Finlândia), 3.55.44
24.º, Adrian Blocki (Polónia), 3.55.49
25.º, Mathieu Bilodeau (Canadá), 3.56.54
26.º, Francisco Arcilla (Espanha), 3.57.27
27.º, Marian Zakalnytstyi (Ucrânia), 3.57.29
28.º, Anders Hansson (Suécia), 3.58.00
29.º, Chilsung Park (Coreia do Sul), 3.59.46
30.º, Wenbin Niu (China), 4.01.35
31.º, Narcis Stefan Mihaila (Roménia), 4.02.27
32.º, Pedro Isidro (Portugal), 4.02.30
33.º, Ronal Quispe (Bolívia), 4.08.22
Desistentes: Michele Antonelli (Itália), Luis Fernando López (Colômbia), Dušan Majdan (Eslováquia), Artur Mastianica (Lituânia), Iván Pajuelo (Espanha) e Wei Yu (China).
Desclassificados: Edward Araya (Chile), Qianlong Wu (China), Andrés Chocho (Equador), Veli-Matti Partanen (Finlândia), Dominic King (Grã-Bretanha), Omar Zepeda (México), Håvard Haukenes (Noruega), Florin Alin Stirbu (Roménia) e Alejandro Francisco Florez (Suíça).